sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Paradoxo de Gênesis: Crescer e multiplicar ou cuidar do Jardim


Paradoxo de Gênesis: Crescer e multiplicar ou cuidar do Jardim 
 
A Bíblia tem vários paradoxos e isto a faz ser o livro que é (a ação de Deus na história), permite reflexões sobre quem somos, o que fazemos e como nos relacionamos com sua criação.

Em Gênesis 1.28a pode-se ler “ Deus os abençoou, e lhes disse: "Sejam férteis e multipliquem-se!”. Cumprimos a risca esta mandamento.

No segundo semestre de 2011 a humanidade chegou ao número de 7 bilhões de pessoas, sendo que em 2050 seremos aproximadamente 9 bilhões. O primeiro bilhão chegou em 1800, o segundo bilhão em 1930, o terceiro em 1960, o quarto em 1975, o quinto em 1987, o sexto em 2000. Nos últimos 130 anos, nós usufruímos de todos os avanços que a ciência trouxe na medicina (antibióticos, vacinas), nos alimentos (melhoramento genético, aumento da produtividade) e nas tecnologias (luz elétrica, carros, informática, internet etc.). Apesar dos avanços e controle de natalidade nos países desenvolvidos, a taxa de crescimento em países pobres chega a 3 a 4 filhos por mulher, principalmente nos países mulçumanos. Crescemos e continuaremos a crescer nas próximas décadas nas mais diversas partes do mundo.

Até 2020 seremos quase 2 bilhões de consumidores vorazes por mais alimentos (principalmente carne e lácteos), novos produtos eletrônicos (smartphones, tablets), carros, viagens, produtos de beleza e tantas outras coisas que o nosso desejo consumista pedir.

A humanidade ocupou todos os espaços possíveis do Planeta (Antártida é a exceção devido as condições extremamente adversas de frio) usando os recursos naturais, construindo suas casas, erguendo suas cidades e estabelecendo suas culturas.

Dominamos a Terra com nossa ciência, tecnologia e determinação, provamos nossa força dominando uma parte das forças da natureza. Erradicamos doenças, produzimos mais alimentos, encurtamos as distâncias com o avião, trocamos mensagens instantâneas com qualquer pessoa a qualquer hora, chegamos a Lua.

Mas como gerenciar um mundo com 9 bilhões de pessoas onde serão necessárias mais comida para matar a forme, mais água para produzir alimentos e matar a sede e mais energia para produzir e manter tantas pessoas no planeta?

Em Gênesis 2.15 diz : ”O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo.

Ao ler este texto surge o paradoxo: Somos convocados a crescer e multiplicar e ao mesmo tempo cuidar e cultivar. O que é mais importante? Infelizmente estamos sendo muito competentes em relação à Gênesis 1.28, mas relapsos com Gênesis 2.15.

Conforme o índice de footprint (pegada ecológica) desenvolvido pela WWF (World Wildlife Fund) atualmente precisaríamos de 3 planetas para manter o ritmo de consumo que temos no mundo (sendo que atualmente não chegamos a 1 bilhão de consumidores). Ou que gastamos anualmente 30% a mais de recursos naturais do que o planeta pode renovar. Produzimos mais lixo atualmente do que toda história da humanidade (aproximadamente 1Kg/dia), tanto que temos dificuldade de encontrar alternativas do que fazer com ele. Apesar de nossa capacidade de produzir carros cada vez mais modernos e potentes, nossa média horária (16 km/h na cidade de São Paulo) é a mesma das carroças de 1900 (piorando a cada dia).

Há uma urgência indiscutível de encontrarmos uma forma de gerenciar nosso crescimento demográfico com qualidade e sustentabilidade (cuidar do jardim). Rever nosso estilo de vida já é um primeiro passo para que possamos entender quais são as ações que devemos fazer. Mas precisamos ir além, precisamos mobilizar nossas famílias, nossas igrejas, nossos bairros, nossas cidades na construção de políticas publicas eficientes e responsáveis. Cuidar do planeta é uma premissa que existe desde o início de nossa história neste planeta. Somos os mordomos, somos os administradores. Foi nos dado por Deus as condições para crescermos no jardim, mas também foi nos dado o poder e a capacidade de cuidar deste mesmo jardim. Desta forma, quando jogamos metade do esgoto das cidades do Brasil no meio ambiente sem nenhum tipo de tratamento, estamos mostrando nossa falta de compromisso com o cuidado da criação de Deus, pois como disse Paulo: “Todas as coisas foram feitas por Ele e para Ele”.

Este paradoxo de Gênesis mostra que devemos, sim, crescer, mas precisamos, sim, cuidar, precisamos ser sustentáveis, precisamos entender que vivemos num mundo com recursos finitos, precisamos entender que somos mordomos e que o Dono voltará para nos cobrar sobre como administramos os recursos que nos foi confiado.

A responsabilidade desta geração é iniciar o processo de harmonia entre Gênesis 1.28 com Gênesis 2.15. Literalmente, é a construção de um mundo novo.

Mateus 25.14-29 conta a história de um senhor que deixou talentos (recursos) para seus mordomos de forma que estes cuidassem e os fizessem prosperar. Um dia este senhor voltou para cobrar o que era seu.

Quando Jesus voltar, qual o tipo de planeta estaremos entregando a Ele?


Marcos Custódio Marcos Custódio Marcos Custodio é formado em Química, mestre em Ciências dos Alimentos. Desde 2002 está envolvido com organizações ambientalistas, tendo sido por 5 anos Diretor Executivo da organização ambientalista cristã A Rocha Brasil. Atualmente é consultor na área de Sustentabilidade e Gestão do Terceiro Setor. 

Fonte:http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=726

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