sábado, 24 de dezembro de 2011

Glória a Deus nas alturas!

“Glória a Deus nas maiores alturas, paz na Terra e boa vontade entre os homens!”

Essa saudação angélica aos pastores, em Belém da Judéia, na madrugada em que nasceu Jesus de Nazaré, anunciava o cumprimento de várias profecias, e a consecução de uma promessa, o nascimento da criança prometida do jardim: o descendente da mulher, que esmagaria a cabeça do serpente, signo do adversário de nossas almas, fomentador da confusão que inviabiliza qualquer relacionamento, seja com o Deus, seja consigo mesmo, seja com o próximo.

O Deus Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), através do Filho, de quem a criança da manjedoura, nascida sob a sombra da cruz, e à luz da ressurreição, é a encarnação, oferecia a sua própria vida para que houvesse paz.

Nesse gesto, ao satisfazer o princípio de justiça, que permite o sustento do Universo, a Trindade eterna semeava o princípio da graça, o princípio do favor imerecido, que permite o perdão.

A Trindade eterna pode perdoar-nos por nossas ofensas. Perdoados, nos reencontramos com o Eterno, e, assim, conosco, pois a identidade de cada um de nós estava nos aguardando em Deus, e fica desvendada a razão de nossa existência: comungar com a Divindade Trina. E, conscientes e movidos pela graça, podemos oferecer ao outro o perdão, que é a condição para a paz, e a semeadura da justiça.

É Natal, Jesus nasceu! O Deus veio ao nosso encontro para que possamos nos achar na existência, e, então, encontrar o outro na vida, que, necessariamente, deve ser compartilhada entre todos, para que a dignidade, que impõe a satisfação das condições necessárias para um viver com a melhor qualidade, seja um bem universal.

Feliz Natal!

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Ariovaldo Ramos, filósofo, teólogo, pastor na Comunidade Cristã Reformada (São Paulo) e embaixador da Aliança Evangélica Brasileira e da ONG Visão Mundial.


 Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/gloria-a-deus-nas-alturas
 

sábado, 10 de dezembro de 2011

#Música para Juventude



Leon Souza
Unijovem Mares

O desenvolvimento é uma aspiração da juventude

(Adital) O Brasil vive um momento singular também para a sua juventude. O momento é marcado pelo bônus demográfico, quando temos a maior População Economicamente Ativa (e a mais jovem) de nossa História. São cerca de 52 milhões de jovens entre 15 e 29 anos, mais de 50% da PEA. Isso torna incontornável ao desafio do desenvolvimento abrir à juventude um horizonte de direitos, considerá-la protagonista desse momento.
O movimento sindical classista busca qualificar e disputar o modelo do desenvolvimento, através da valorização do trabalho, o que pode integrar a nova geração em uma trajetória de direitos e oportunidades, numa curva de elevação de salários, de formação profissional, de fortalecimento do mercado interno, de incorporação de valor e tecnologia à produção, com a afirmação do Brasil, uma integração de novo tipo na América Latina e o crescimento das relações Sul-Sul.
Esse desafio é imenso. A oportunidade do bônus demográfico é transitória. Doravante, nosso crescimento vegetativo levará ao envelhecimento da população, que trará em si a qualidade de vida que pôde construir nesses anos que vivemos. Os piores indicadores sociais afligem a juventude atual, que sofre ainda os prejuízos de mais de 20 anos de crise e recessão, agravados pelo neoliberalismo. Esse déficit social não foi equacionado, e mesmo com os avanços, muito houve de lentidão e de concessões feitas pelo projeto mudancista iniciado por Lula. Elas tiveram seu impacto na inclusão juvenil, porque o ritmo do crescimento econômico e da produção, os empregos, os direitos, tudo é condicionado à correlação de forças dessa época de hegemonia do capital financeiro, aprofundada pelo neoliberalismo, que ainda não foi vencido.
A juventude e o Brasil não podem mais esperar
Deixar a juventude envelhecer desempregada, nas prisões, sem saúde, sem cultura, sem escola, que é o que o neoliberalismo nos impõe, é sobretudo, uma decisão política, que nos legaria um futuro de privações, tristezas e submissão. Só uma política estratégica, com recursos, pode enfrentar o desafio da juventude e do desenvolvimento. Duas coisas interessam à juventude: ter prioridade para o desenvolvimento nacional, o que torna inescapável a necessidade de derrotar o capital financeiro que parasita a Nação, cobrando preço altíssimo exatamente à juventude.
Há quase uma década da primeira eleição de Lula, quais as políticas públicas que de fato mudaram a vida dos jovens brasileiros? Destacam-se as que lhes apontam o caminho da escola e do trabalho qualificado e com direitos, abrindo caminho à emancipação, que se efetiva com a incorporação a uma vida adulta plena. As iniciativas mais consistentes são políticas como a reserva de vagas, as cotas, o Bolsa Família (graças à obrigatoriedade de frequência escolar), o PROUNI, o REUNI e o PROJOVEM – com seu êxito a depender da incorporação dos jovens em situação de vulnerabilidade à escola e ao trabalho. E daí advém as expectativas positivas a respeito do PRONATEC, que propõe educação profissional para 8 milhões de brasileiros(as).
Os rentistas atrasam o Brasil
Os limites de tais políticas foram claramente influenciados pela capacidade de investimento do Estado Brasileiro, submetido ao constrangimento do rentismo, que impõe uma política monetária que onera a produção e o consumo. Em 2010, ela nos custou a bagatela de 44,93% do Orçamento da União, conforme ilustrou a revista Le Monde Diplomatique Brasil, em junho, que nos traz o interessante gráfico a seguir. Importante recordar que Tiradentes lutava contra o quinto que pagávamos a Portugal, que era 20% do ouro, e por isso foi esquartejado, teve seu corpo exposto à fome dos urubus, teve sua casa demolida e salgada, para que nada nascesse em seu solo. Ainda hoje é assim, vejam só!

Esses 635 bilhões de reais foram para os rentistas, os banqueiros, o capital financeiro, sangrando a produção, a educação, a saúde, os trabalhadores e o povo. O que se fez, e muito se fez, foi apesar disso, e não graças ao suposto rigor fiscal, como apregoa a imprensa golpista, o capital financeiro e seus sócios. Por isso é tão importante defender as mudanças na política econômica, enfim iniciadas após as manifestações de estudantes e trabalhadores do campo e da cidade realizadas em agosto, em especial as sucessivas reduções da taxa SELIC – que remunera os títulos da dívida pública, encarece o crédito e a produção. É preciso tornar sem retorno tais mudanças, conformando um novo pacto nacional que valorize a produção, o trabalho, o investimento produtivo e a mudança da face do país, no contexto do Pré-Sal, dos grandes eventos esportivos e da retomada do crescimento econômico, e apesar da crise. Em um contexto desses os jovens serão a mola, e não o calcanhar de Aquiles do desenvolvimento.

Fonte:  http://ultimato.com.br/sites/jovem/2011/12/07/o-desenvolvimento-e-uma-aspiracao-da-juventude/

sábado, 3 de dezembro de 2011

#Música para Juventude

Leon Souza
Unijovem Mares

Advento sitiado

Atualizando a parábola do rico e do pobre, ou o confronto de João Batista com Herodes, banquetes, ceias, e comemorações de fim de ano, uma festa para a massificação do consumo e desperdício está em andamento, e ao mesmo tempo se exibe uma falsa privacidade. Ninguém pode mais concordar com Hegel, filósofo muito interessante. É uma pena! Dizia que “a privacidade nos ajuda a viver num mundo sem compaixão”. Hoje, esse conceito não funciona mais. Para muitos não há mais um mundo privado para reflexão. Agimos “como um cão que volta ao seu vômito” (Lc 16,19-31). De que vale a privacidade num mundo assim? A cultura utilitarista predomina. Como objetos comprados, descartáveis, “use e jogue fora”, os valores de uma ética de partilha e solidariedade são atirados no lixo sem o menor pudor.
 
O Advento e a Natalidade do Senhor nada significam, hoje. O problema, no entanto, são os valores veiculados em substituição aos tradicionais sobre amor, solidariedade, compaixão e cuidado com o outro. Ideias voyeuristas expõem o ser humano como mercadoria barata, afirmando isoladamente a falta de importância das mesmas. Como diz Jurandyr Freire, vive-se uma cultura sitiada pelo dinheiro nas festas de fim de ano. Uma geração inteira encontra-se dopada, quando se encarrega de adotar e veicular os “novos valores” sem nenhum controle. A compulsão do evangelical business não deve ser desprezada. A juventude evangélica, “diante do trono” gospel, sabe muito bem que estamos falando da cultura do dinheiro. Aderimos ao tema mundial “muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender”. Fim de papo.
 
Consumo rápido, fast-food: molho de tomate, hamburguer são alimento e sangue dessa nova cultura. Jovens evangélicos abraçam o gospel como religião emocional salvadora. São inaugurados bares e boates gospel para o compartilhamento cultural do novo jeito de ser “crente moderno”. Jovens de outras tendências, possivelmente não-religiosos, extasiados, adeptos confessos da cultura rock, marcam os costumes das novas gerações com piercings, tatuagens, uso “quase livre” de drogas estimulantes, para vários fins, como os comprimidos de ecstasy e viagra para a inapetência geral. Vale tudo, enquanto são convidados a esquecer a História, as lutas pelas liberdades civis e direitos fundamentais do homem e da mulher. O passado não interessa, o presente justifica tudo. Comamos e bebamos, aproveitemos, porque amanhã... não interessa.
 
Poucas décadas atrás, o anseio de liberdade devido às ditaduras e a sustentação de totalitarismos em todos os quadrantes, a precarização do ensino, o desemprego, a ausência de liberdades civis, cidadania, direitos humanos, levava os jovens às ruas. Quem imagina jovens apaixonados por festivais gospel, e encontros carismáticos, “marchas-com-jesus”, frequentadores de shoppings, nas ruas reivindicando direitos fundamentais para a sociedade toda? A obsessão consigo mesmos se manifesta menos no ardor do gozo da juventude que no medo da velhice, da doença, na panacéia oferecida como remédio para aproveitar bem o tempo em atividades que dão prazer ao corpo, a qualquer custo, menos que os prazeres da alma e do espírito (Gilles Lipovetsky). 
 
Há inquietações, no entanto. Tudo deveria inquietar e desassossegar. O terrorismo e seus estragos na paz mundial que nunca chega, a fome global, a poluição urbana, a ausência da socialização das riquezas monetárias (nunca tantas pessoas tiveram tanto dinheiro, bens, posses, possibilidades que envolvem o direito à propriedade ilimitada), a violência nas periferias das metrópoles, a fragilidade do corpo diante de enfermidades antigas e recentes (o drogadismo farmacológico, entre outras). A compulsão consumista equivale às demais compulsões pelo álcool, pelas drogas leves ou pesadas, pelo sexo, pelo jogo, pelo trabalho sem repouso.
 
Entre os etariamente maduros, também, todos ficam felizes. No Natal, nas comemorações com parentes e amigos, falaremos de moral, ciência, religião, política partidária, esportes, amor, filhos, saúde, alimentação saudável, esteira rolante, eletrocardiograma, mamografia, ultrasom, próstata, colunoscopia, medicina de ponta, e mesmo assim chega o dia inevitável em que se vai para o caixão. “E virá a próxima geração de idiotas, que também falará sobre a vida e o que é apropriado para se viver bem. Meu pai se matou, os jornais o deixavam deprimido. E você pode culpá-lo com o horror, a corrupção, a ignorância, a pobreza, o genocídio, o aquecimento global, o terrorismo, os valores morais imbecis e os imbecis armados até os dentes”? (Woody Allen). Levar gol contra acaba cansando... Contudo, urge observar os temas do Advento do Senhor.

 
É pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor do livro “O Dragão que Habita em Nós” (2010).